Quando as baleias nadavam no Saara - Parte I - PaleoPost Brasil - Paleontologia brasileira

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Senhores dos céus

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© Rárisson Jardiel

Começa agora um estudo sobre a evolução das baleias realizado por Philip Gingerich e sua equipe, com o apoio da revista National Geographic, que é a fonte de pesquisa para esta postagem. Vamos viajar até o Eoceno para descobrir como viviam e quais os hábitos das baleias primitivas. Por incrivel que pareça o maior deserto do mundo atual, foi um imenso oceano, que serviu de berçario para todo esse extraordinário processo evolutivo. Ao longo de milhares de milênios, um manto de sedimentos foi se acumulando os ossos de um animal de 15 metros que morreu e afundou no Oceano Tétis (hoje é o Saara). 
 Philip Gingerich
©Actionbioscience

O mar acabou recuando e, quando o antigo leito marinho virou um deserto, o vento começou a remover lentamente o arenito e o folhelho acima da ossada. Pouco a pouco o mundo mudou. Deslocamentos na crosta do planeta empurraram o subcontinente indiano para a Ásia e soergueram o Himalaia. Na África, os primeiros ancestrais humanos puseram-se em pé e passaram a caminhar eretos. Os faraós ergueram suas pirâmides. Roma ascendeu e caiu. E durante todo esse tempo o vento prosseguiu na paciente escavação. Aí, um dia, Philip Gingerich chega para concluir a tarefa.

O deserto do Saara: uádi Hitan
©National Geographic
Em um crepúsculo em novembro de 2009, o paleontólogo Gingerich, da Universidade de Minchigan e especialista em vertebrados, deita-se no chão ao lado da coluna dorsal daquela criatura, batizada de Basilosaurus, em um local do deserto egípcio conhecido como uádi Hitan. A areia em torno dele está coalhada de fósseis: dentes de tubarão, espinhos de ouriço do mar e ossos de um bagre gigante. "Passo tanto tempo ao lado dessas criaturas marinhas que loo me vejo vivendo no mundo delas", diz ele, cutucando com o pincel uma vértebra grande como um tronco."Quando olho para este deserto, vejo um oceano".
 Fóssil de Basilosaurus em meio ao uádi Hitan
© Abril

Gingerich está procurando um pedaço crucial da anatomia do animal, e não tem tempo a perder. Falta pouco para escurecer e, se não voltar logo ao acampamento, os colegas começarão a ficar preocupados. O uádi Hitan é um lugar belíssimo mas implacável. Ao lado dos ossos de monstros marinhos pré-históricos, Gingerich já havia topado com muitos restos mortais de seres humanos menos afortunados. Ele move-se pela espinha dorsal na direção da cauda, explorando com o cabo do pincel entre cada uma das vértebras. "Eis aqui o que interessa!", exclama afinal. Limpando delicadamente a areia comos dedos, deixa exposto um esguio bastãode osso que mal chega a 20 centímetros. "Não é todo dia que a gente pode ver uma perna de baleia", diz enquanto ergue o osso reverentemente com ambas as mãos (...)

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