Dinossauro pescoçudo brasileiro é o saurópode mais antigo já encontrado - PaleoPost Brasil - Paleontologia brasileira
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Senhores dos céus

Os pesquisadores concluíram que, durante um intervalo de oito milhões de anos, a dieta herbívora foi aprimorada no grupo, os sauropodomorfos cresceram significativamente e o pescoço tornou-se proporcionalmente duas vezes mais longo

Paleontólogos brasileiros acabam de descrever o mais antigo dinossauro de pescoço longo conhecido. O animal compõe o grupo dos sauropodomorfos, aqueles que tem o pescoço longo como principal característica e abriga os maiores dinossauros conhecidos, como Braquiosaurus e Diplodocus. O achado é de extrema importância e coloca o Brasil em posição de destaque na paleontologia mundial.

Ilustração: Márcio L. Castro
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O espécime foi batizado de Macrocollum itaquii, que significa "pescoço longo", sendo o mais antigo dinossauro pescoçudo já encontrado até agora. O nome "itaquii" foi dado em homenagem a José Jerundino Machado Itaqui, um dos principais responsáveis pela criação do CAPPA/UFSM - Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica, lugar onde os fósseis estão guardados.

O Macrocollum foi descrito a partir de três esqueletos fossilizados em excepcional condição de preservação, um feito inédito até então, pois representa a primeira ocorrência de esqueletos completos encontrados no Brasil. O material foi escavado em rochas triássicas que datam de 225 milhões de anos, em um sítio da cidade de Agudo, no interior do Rio Grande do Sul. O mesmo local vêm sendo palco de outros estudos e recentes descobertas, tal como Bagualosaurus agudoensis. A região é o único lugar do país onde se encontram fósseis do período Triássico.


UMA DESCOBERTA REVOLUCIONÁRIA
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Encontrar fósseis do período triássico é algo que chega a ser um tanto raro. Os achados dessa época remontam a um período em que surgiram os primeiros dinossauros. O estudo dos fósseis ajuda a entender o comportamento desses animais, como eles se espalharam pela terra e quais características os levaram a dominar quase todos os ambientes. 

A descoberta do Macrocollum itaquii é fundamental nesse sentido, pois preenche uma lacuna do registro fóssil, ajudando a compreender uma importante etapa da história evolutiva sobre o surgimento e desenvolvimento dos primeiros dinossauros, muito antes de se tornarem os seres dominantes. Os três esqueletos encontrados estavam relacionados entre si, o que indica a evidência mais antiga de gregarismo nos saurópodes, ou seja, aquele comportamento de andar em bandos, grupos ou manadas.
*Foto: Comparação de tamanho do crânio de Macrocollum por Rodrigo T. Müller

ELE VIVEU MUITO ANTES DOS DINOSSAUROS DOMINAREM A TERRA

Com cerca de 3,5 metros de comprimento e o pescoço alongado, sugere-se que a capacidade de se alimentar de vegetações mais altas era um traço fundamental alcançado ainda no período Triássico. Os pesquisadores concluíram que, "durante um intervalo de oito milhões de anos, a dieta herbívora foi aprimorada no grupo, os sauropodomorfos cresceram significativamente e o pescoço tornou-se proporcionalmente duas vezes mais longo", diz Rodrigo Temp Müller, um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo.

Reconstrução do Macrocollum itaquii por Rodrigo T. Müller
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Macrocollum itaquii difere dos demais saurópodes conhecidos por possuir um conjunto de características únicas, possuindo focinho longo e vértebras da colunas também alongadas. Nota-se um aumento de tamanho proporcional do pescoço, que viria a tornar-se a característica marcante dos sauropodomorfos.

Ilustração: Márcio L. Castro
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Esse alongamento pode ter proporcionado uma vantagem competitiva para a obtenção de alimento, permitindo que esse grupo de dinossauros atingisse uma vegetação mais alta em comparação com outros animais que viveram naquela época. A análise do esqueleto também mostrou modificações importantes, sugerindo que Macrocollum apresentava adaptações que lhe distanciava evolutivamente dos animais corredores, perdendo o que os pesquisadores chamam de características cursoriais.

O estudo publicado no periódico britânico Biology Letters foi conduzido por pesquisadores paleontólogos brasileiros, liderados por Rodrigo Temp Müller do Centro de Apoio a Pesquisa Paleontológica da UFSM, em parceria com o professor Max Cardoso Langer da USP e Sérgio Dias da Silva da UFSM. Para quem quiser conhecer melhor o dinossauro, os fósseis encontram-se depositados no Cappa, em São João do Polêsine, e podem ser visitados por qualquer pesquisador ou pessoa interessada.

Saiba mais:

An exceptionally preserved association of complete dinosaur skeletons reveals the oldest long-necked sauropodomorphs
http://rsbl.royalsocietypublishing.org/content/14/11/20180633
(Publicação original em inglês)

Pesquisadores do Cappa, da UFSM e da USP descobrem mais antigo dinossauro de pescoço longo
https://www.ufsm.br/2018/11/20/descoberto-no-brasil-o-mais-antigo-dinossauro-de-pescoco-longo/