© Arqueologia Piauí
Os atuais continentes africano, sul americano, antártico e a Índia ainda faziam parte de um mesmo grande bloco continental quando começou a se formar a Bacia do Araripe na região do Cariri, que ficava na área central desta grande porção de terra emersa chamada de Gondwana. A região de rochas duras e muito antigas tinha sido erodida pelo intemperismo (chuvas, ventos, variações de temperatura etc.) e fraturada em imensos blocos de granito, uns deslizando para baixo e outros permanecendo mais altos, formando serras.
A região do Araripe foi uma área que ficou mais baixa, e assim os rios foram trazendo fragmentos de rochas, areia e lama das serras próximas e depositando neste baixio, durante o período de tempo entre o Ordoviciano e o Siluriano, correspondendo ao que hoje chamamos de Formação Cariri. Nesta época, não existiam plantas terrestres e os rios corriam para o noroeste.
Por algum motivo que não sabemos (pois não há registro geológico), depois de certo tempo tudo secou e foi parcialmente arrasado. Uns 270 milhões de anos depois, novamente a região do Cariri tornou a ficar baixa, talvez por movimentos internos do continente Gondwana, que começou lentamente a se espalhar latitudinalmente (para os lados), formando áreas altas e baixas.
© Diário do Nordeste
A região do Araripe ficou baixa novamente e foi sendo alagada, formando lagos rasos e brejos, como a Formação Brejo Santo registra. Com o passar dos tempos, os rios ficaram maiores e começaram a trazer mais seixos, areia e lama das colinas próximas, que agora já estavam cobertas por bosques de altas coníferas. E assim se depositou, no mesmo período geológico (o Jurássico), a Formação Missão Velha, cheia de troncos petrificados. O Gondwana agora começava a partir-se em continentes menores, e o Araripe continuava como uma área baixa, cheia de água e de sedimentos trazidos por rios, talvez formando um delta. Este tempo, bem no início do Cretáceo, é hoje registrado pela Formação Abaiara.
Em momento posterior (não há registro geológico definidos), tudo secou e foi parcialmente arrasado. Mas, depois de uns 10 milhões de anos, quando a América do Sul já havia se separado definitivamente da África e o oceano Atlântico Sul estava sendo formado (e talvez até por causa desta separação), mais uma vez a região do Araripe ficou suficientemente baixa para formar novos rios e até um delta para o sudeste, onde havia terras ainda mais baixas.
Isto é registrado pela Formação Barbalha (às vezes chamada de Formação Rio da Batateira) e confirmado por restos de peixes e de conchas fósseis que nela se encontram. Com o passar dos tempos, formaram-se planícies alagadas e até um lago de água doce. Neste lago existiam muitos peixes pequenos, crustáceos e algas, e era constantemente sobrevoado por insetos e pterossauros. No meio da vegetação baixa dos alagados havia rãs, lagartixas, aranhas e escorpiões.
© Geopark Araripe Blog
Tudo isso foi registrado na pedra cariri da Formação Santana, num tempo que corresponde quase ao meio do período Cretáceo. O clima era quente e úmido, mas foi ficando cada vez mais seco, talvez pelo aquecimento global que ocorreu naquela época.
O lago diminuiu sua extensão e secou, formando espessas camadas de sal (gipsita) no fundo, como registram as camadas Ipubi da Formação Santana. Mas depois o clima ficou novamente mais ameno e na região formou-se um ambiente de lagunas costeiras, talvez com eventuais entradas de águas marinhas e fluviais. Desta época (quase ao meio do Cretáceo) são os peixes, crocodilos, tartarugas, pterossauros e dinossauros hoje preservados em concreções calcárias da Formação Santana. Posteriormente, toda a região foi assoreada e secou (formações Arajara e Exu), deixando impressa nas rochas uma história que ninguém viu.
"A Bacia do Araripe ficava na área central da grande porção de terra emersa chamada de Gondwana"
Texto: Dra. Maria Helena Hessel
*Licenciada em História Natural e mestra em Paleontologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e PhD em Paleontologia e Geologia Histórica pela Uppsala University, Suécia. Atualmente é pesquisadora da Universidade Federal do Ceará no Campus Cariri, coordenando um curso de especialização (pós-graduação sensu lato) em Paleontologia e Geologia Histórica, a ser oferecido em convênio com a Urca, em agosto de 2009
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