Quando as baleias nadavam no Saara - Final - PaleoPost Brasil - Paleontologia brasileira

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Senhores dos céus


Por volta de 45 milhões de anos atrás, à medida que as vantagens do ambiente aquático levavam as baleias para longe do litoral, seu pescoço foi se comprimindo e enrijecendo, a fim de permitir deslocamento mais eficiente através da água, enquanto sua cabeça se encompridava e ficava aguçada como a proa de um barco. Os membros posteriores se engrossaram e adquiriram a forma de pistão; os dedos se alargaram e foram unidos por uma membrana, assemelhando-se a enormes pés de pato com cascos residuais herdados dos antepassados ungulados. Os métodos de natação também foram aperfeiçoados: algumas baleias desenvolveram cauda grossa e poderosa, que lhes permitia disparar pela água com vigorosas ondulações verticais na parte posterior do corpo. 
Esquema da evolução das baleias
© Portal São Francisco

As pressões evolutivas para esse eficiente estilo de locomoção favoreceram uma coluna vertebral mais longa e flexível. As narinas se deslocaram para trás - do focinho ao alto da cabeça -, tronando-se espiráculos. Com o passar do tempo, à medida que os animais se adaptavam a profundidades maiores, os olhos começaram a migra do topo para os lados da cabeça, melhorando sua visão lateral. E os ouvidos da baleia tornaram-se mais sensíveis, captando vibrações como antenas sub-aquáticas e transmitindo-as para o ouvido médio. Embora bem adaptadas à vida na água, essas baleias de 45 milhões de anos atrás ainda tinham de se arrastar até a praia, com os dedos palmados, em busca de água doce para beber, de parceiros para a reprodução ou de locais seguros para dar à luz. Porém, no breve período de poucos milhões de anos, as baleias haviam chegado a um ponto de onde não era mais possível retornar: a Basilosaurus, a Dorudon e seus parentes nunca botaram os pés em terra firme, nadando confiantes mar afora, e até mesmo cruzando o Atlântico e chegando ao litoral dos atuais Peru e Sul dos EUA. Seu corpo ajustou-se a um modo de vida exclusivamente aquático, os membros dianteiros reduziram-se e enrijeceram para servir de nadadeiras direcionais, e a cauda alargou-se na ponta em nadadeiras horizontais que funcionam como hidrofólios. A pelve desconectou-se da espinha, permitindo à cauda uma gama maior de movimentos verticais. Entretanto, restaram os membros posteriores completos, com minúsculos joelhos, pés, tornozelos e dedos, agora inúteis para o deslocamento, mas talvez com alguma função específica durante as relações sexuais. 
Adaptações de baleia moderna - cauda alargada, dentes substituídos por barbatanas.
© Mundo animal news

A transição final dos basilosaurídeos para as baleias modernas teve início há 34 milhões de anos, na súbita fase de esfriamento do clima que marcou o fim do Eoceno. Queda na temperatura da água nos polos, mudanças nas correntes oceânicas e ressurgência de água rica em nutrientes ao longo das costas ocidentais da África e Europaatraíram esses animais a nichos ambientais novos e levaram às adaptações remanescentes - cérebro maior, camada isolante de gordura e barbatanas no lugar de dentes para filtragem do krill - que encontramos nas baleias atuais. Graças sobretudo a Philip Gingerich , o registro fóssil das baleias hoje proporciona uma das comprovações mais assombrosas da evolução darwiniana. Ironicamente, o próprio Gingerich cresceu em ambiente rigidamente cristão, em uma família de menonitas amish no leste do estado de Iowa. 
Philip Gingerich
© Danandjaniece.com

Todavia, na época ele não sentiu nenhum choque entre fé e ciência. "Meu avô tinha uma atitude aberta no que se refere a idade da Terra", conta ele, "e jamais mencionava a evolução. é preciso lembrar que eram pessoas de grande humildade, que só opinavam sobre aquilo que conheciam bem." Gingerich ainda fica perplexo com o fato de tanta gente ser afetada pelo conflito entre religião e ciência. Na minha última noite no uádi Hitan, caminhamos um pouco sob o céu estrelado perto do acampamento. "Nunca fui especialmente devoto", diz ele, "Mas acho que meu trabalho tem um aspecto bastante espiritual. Só de imaginar aquelas baleias nadando aqui, o modo como viviam e morriam, e como o mundo mudou desde então - tudo isso o põe em contato com algo bem maior que você, sua comunidade ou sua existência cotidiana." Ele então abre os braços abarcando o horizonte escuro e o deserto com as esculturas de arenito criadas pelo vento e os incontáveis fósseis de baleia. "Aqui há espaço para toda a religião que alguém possa querer." 


Bom, isso é tudo. Acaba aqui essa impressionante série sobre a evolução dos maiores mamíferos do planeta: As baleias. Espero que vocês tenham gostado e até a próxima!

Fontes: Revista Natinonal Geographic


Leia a parte VII

Um comentário:

  1. Olá Rarisson, agradeço a seu carinho. Valeu! Diga a sua mãe que estou com saudades! Ela foi uma das primeiras seguidoras do Ler com Prazer e começamos praticamente na mesma época. Fizemos uma parceria divulgando através do link uma a outra...já se passaram dois anos! Jerle mil beijocas e parabéns pelo filho brilhante! Beijocas Rarisson.E até breve!

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