Crustáceo polêmico é descoberto na Bacia do Araripe - PaleoPost Brasil - Paleontologia brasileira

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Senhores dos céus

© O Globo 

Um fóssil de camarão foi encontrado em Jamacaru, distrito situado em Missão Velha, no interior do Ceará. O Kellnerius jamacaruensis, como assim foi batizado, se torna mais uma evidência de que o sul cearense já esteve submerso em água do mar, ou pelo menos possuía lagos de água salina. Estratigraficamente, o crustáceo foi encontrado na Formação Santana, uma das mais importantes do Brasil. O fóssil estava em concreções calcárias, conhecidas pela população local como “Pedra do Peixe”, estas fazem parte do Membro Romualdo, a camada mais recente da Formação, evidenciando assim que o camarão não é o mais antigo encontrado. Outros espécimes foram encontrados nos Calcários laminados (conhecido como Pedra Cariri) do Membro Crato, camada mais antiga da Formação, datando de 120 Milhões de anos, Período Cretáceo.
© Site Veja Juazeiro

Entretanto, o modo como a descoberta foi noticiada pela Tv Verdes Mares (Globo) causa uma certa decepção aos profissionais da área. Foi relatado, segundo o noticiário, que o fóssil era o primeiro, e único camarão encontrado no Araripe, mas, a verdade é que camarões em concreções do Membro Romualdo da Formação Santana são conhecidos desde 1995, através de dois trabalhos publicados: o de John Maisey e Maria de Glória de Carvalho (ambos do American Museum of Natural History; publicado em revista científica internacional) e o de Maria Somália Viana (professora da UVA) e Sonia Maria Agostinho (da UFPe), este publicado no Simpósio de Geologia do Nordeste realizado no Recife. Portanto, ‘camarões’ nesta unidade estratigráfica não se constituem em novidade. Se não o único, foi relatado também que este seria o mais antigo e mais bem preservado, mas, sabe-se que existem achados do Membro Crato até dentro do estômago de peixes fossilizados, e alguns também em ótimo estado de conservação, preservados tridimensionalmente. Chega a ser triste a maneira como a mídia leva a paleontologia brasileira ao público em geral, devido as informações inverídicas apresentadas, e um certo relaxamento por parte dos jornalistas. Uma matéria bem feita requer no mínimo um estudo sobre o objeto da notícia. O que acontece é que, ao invés de levar a informação como deve ser (para informar), acabam fazendo um mero propagandismo. Vamos esperar que ocorra uma mudança quanto à isso, e que essa ciência tão interessante possa ser mais valorizada e transmitida de forma correta à população.

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