O Espinossauro podia mesmo viver na água? - PaleoPost Brasil - Paleontologia brasileira

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Senhores dos céus

Contrariando a pesquisa publicada em 2014, um novo estudo questiona a possibilidade do Espinossauro possuir adaptações que lhe permitiram levar uma vida semi-aquática.

Parece que o mistério acerca dos hábitos dos dinossauros ainda é uma grande incógnita que desperta a curiosidade da comunidade científica. Conforme surgem novos estudos, a concepção do modo de vida desses animais vai mudando, algumas vezes de forma sutil, outras vezes nem tanto.

Concepção do Espinossauro proposta por Ibrahim em 2014 - Arte por Davide Bonadonna.

O caso mais emblemático de discussões acerca da anatomia dos dinossauros é, certamente, a tentativa em descobrir se o Spinosaurus aegyptiacus (ou os espinossaurídeos em geral) possuíam hábitos semi-aquáticos. Um estudo publicado em 2014 gerou uma enorme reviravolta e chamou a atenção da mídia ao sugerir que o Espinossauro possuía uma anatomia completamente adaptada para viver na água, semelhante aos crocodilos atuais. Esse modelo se distanciava muito daquele habitual presente na maioria das concepções de paleoartistas e produções cinematográficas, como em Jurassic Park III.

Inicialmente com as descobertas durante o século 19, havia uma enorme dúvida sobre a natureza dos dinossauros e o seu modo de viver. Conforme o conhecimento da paleontologia foi se desenvolvendo, estabeleceu-se um consenso de que os dinossauros eram exclusivamente terrestres. Não havia até então qualquer indício concreto que sugerisse hábitos aquáticos para os dinossauros. Após estudos mais detalhados sobre o grupo dos espinossaurídeos, sugeriu-se que espécimes, tais como o Spinosaurus aegyptiacus e o Baryonyx (Suchomimus) terenensis, tinham uma dieta piscívora, levando a crer que viviam às margens de ambientes pantanosos ou próximos de algum corpo d'água.

Até então, os espinossaurídeos eram considerados dinossauros terrestres que eventualmente "pescavam" peixes nas bordas de lagos ou rios. Mas, foi somente em 2014 que um estudo liderado por Nizar Ibrahim, analisando os fragmentos de esqueleto do Spinosaurus aegyptiacus e interpretando a forma do corpo, propôs que esse animal era um predador ativo adaptado a uma vida semi-aquática e, mais do que isso, era o primeiro grande terópode a apresentar essa característica.

Spinosaurus aegyptiacus - Arte por Davide Bonadonna.


SOBRE O NOVO ESTUDO

A pesquisa publicada em Agosto de 2018 contesta a concepção do espinossauro semi-aquático, afirmando que o predador não possuía características tão distintas de outros dinossauros terópodes que levassem a creditar que pudesse submergir mantendo-se em perfeito equilíbrio. Sugere, também, que esses dinossauros viveram provavelmente nas margens ou em águas rasas.

Contrariando o proposto por Ibrahim em 2014, o recente estudo compara a anatomia de diversos dinossauros diferentes, dentre eles: Spinosaurus aegyptiacus, Baryonyx (Suchomimus) terenensis, Tyranosaurus Rex, Coelophysis bauri, Allosaurus fragilis e outros. O objetivo é testar o centro de massa, a flutuabilidade e o equilíbrio desses animais considerando que estivessem imersos, expondo somente a parte superior do seu crânio sobre as águas. Para tanto, o autor do estudo utilizou-se de um software específico desenvolvido exclusivamente para a pesquisa, levando em conta dados de espinossaurídeos e de seus parentes distantes.

A publicação logo gerou desconfiança por parte da comunidade científica, que questionou a fidelidade das informações, bem como a omissão de alguns dados importantes de outros estudos que poderiam contribuir para uma definição mais específica. O autor não levou em conta a diferença na densidade dos ossos entre as diferentes espécies de dinossauros analisadas no teste. O Spinosaurus aegyptiacus, por exemplo, possui ossos mais densos do que outros dinossauros, o que talvez lhe ajudasse a ficar submerso com mais facilidade. Além disso, questionou-se também a metodologia utilizada, já que a indisponibilidade do software utilizado compromete a falseabilidade das hipóteses levantadas na pesquisa.

De toda forma, o enigma sobre a anatomia dos espinossauros parece reservar ainda muitos questionamentos. Novos achados continuam em processo de estudo e descrição e, em breve, teremos novos indícios e novas evidências que podem ajudar a montar esse quebra-cabeça.


Saiba mais em:

https://peerj.com/articles/5409/
(link do artigo completo do novo estudo)

https://www.youtube.com/watch?v=xO8PEKLrwB8
(Vídeo do Colecionadores de Ossos comentando o assunto)

https://paleopostbrasil.blogspot.com/2014/09/a-verdade-sobre-o-espinossauro_36.html
(post no blog sobre o estudo de 2014)

http://science.sciencemag.org/content/345/6204/1613
(link do artigo do Ibrahim, publicado em 2014)

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